CALENDÁRIO
Originalmente, as cidades-estados gregas eram repletas de festejos, e mesmo suas subdivisões, os demos, também seguiam celebrações locais, oferecendo aos antigos um amplo espectro de festas. Devido a inviabilidade de se retomar todos os possíveis festivais, os grupos gregos modernos estabeleceram ciclos de festejos mais “enxutos”, e assim como na antiguidade, nenhumas das referidas comunidades pretendem ser iguais as outras. Grupos ativos na rede, como: Y.S.E.E, Ophion e Labrys, desenvolveram cada um seu próprio sistema, o Ophion (macedônico). Fora da Grécia, o maior exemplo é a americana Hellenion com suas 12 Libações anuais
A comunidade do Projeto Hierokrithari elaborou um calendário próprio, tendo como referência o ciclo de festas da Ática, conjuntamente apresentando celebrações próprias. O objetivo geral é que possamos honrar os 12 maiores Deuses ao longo do ano, reservando ao menos 1 mês de estudos e práticas para cada divindade.
Festas e outros deuses poderão ser adicionados nesta estrutura, atendendo a especificidades da devoção pessoal e local, sem, contudo, alterar a centralidade das divindades já estabelecidas.
Ainda que você não participe de nossos grupos, o grande público é convidado a aderir ao nosso calendário.
Como funciona?
O ano helênico é luni-solar: os meses são lunares, ou seja, começa na Lua Nova Visível e termina na “Lua negra”. O ano é solar, começando na primeira Lua após o Solstício de verão na Grécia (seguindo o ritmo da Ática, nossa principal referência, porém em outros lugares pode ser em outros períodos), o que para nós cai no Solstício de Inverno. Pode ter 12 ou 13 meses, depende do ano.
Observação: Para o cálculo do mês lunar utilizamos como referência o site HMERA NUMACHI.
Abaixo segue uma tabela da ordem dos meses e seus correspondentes Ático e comum, podendo este variar porque depende do início de cada Lua nova.
As Regências:
1.Lua de Héstia e Zeus (Julho-Agosto): Noumenia especial de ano-novo; primeira lua nova após o solstício de verão na Grécia (para nós é o de inverno). Olimpieia: Uma das poucas celebrações cujo critério foi o clima, pensamos em Zeus neste período por corresponder com nossa época de maiores volumes de chuva. Além disso, transcendendo questões climáticas, é época das Olimpíadas, os milenares jogos sagrados de Zeus. Héstia é tradicionalmente chamada de “a primeira e a última”, foi a primeira divindade a nascer de Rhea, portanto, abre o ano junto do Rei dos Deuses.
2.Lua de Athena (Agosto-Setembro) Panatheneia: se enquadra no período tradicional do aniversário de Athena, nos últimos dias do mês lunar anterior.
3.Lua de Ares e Eros (Setembro-Outubro): época histórica marcada por agitação militar histórica para nós gaúchos, mas que ressoou em outros estados. Esta lua consagramos à Ares. E por ocasião da Primavera meteorológica e astronômica, Eros foi adicionado. Segundo pesquisas de membros do Hiero, é a estação de acasalamento das lebres (animal associado a Eros). Um ritual das lebres machos é “lutarem” entre si, para competir pelas fêmeas.
4.Lua de Hermes (Outubro-Novembro): em Outubro (9) temos o dia mundial do Correio, ligado diretamente a uma das principais atividades de Hermes. Este Deus foi um dos mais difíceis de encontrar um lugar no calendário, devido a escassez de registros referentes a seus festivais. Nas antigas Bithinia e Epidauro, no período setembro-outubro havia um mês chamado Hermaios. (fonte: Hellenicaworld.com)
5.Lua de Hefestos (Novembro-Dezembro): baseado na tradicional Khalkeia, em que celebra Hefestos e Athena como patronos dos artesãos. Realizada no finalzinho da lua anterior, a utilizamos como referência para esse deus no mês corrente.
6.Lua de Poseidon (Dezembro-Janeiro): mês ático que já carregava o nome do deus, “Poseideon”. O Verão se aproxima e boa parcela da população busca os domínios de Poseidon: as águas para se refrescar.
7.Lua de Hera (Janeiro-Fevereiro): Gamelion era chamado o "Mês do Matrimônio", e era um tempo popular para casamentos. O Gamelia (banquete de casamento) ou Theogamia (casamento dos deuses), no fim do mês, é uma celebração do Hieros Gamos (Sagrado Matrimônio) de Zeus e Hera. Em alguns lugares do Brasil, é uma época de muita chuva, associada a essas duas divindades.
8.Lua de Dioniso (Fevereiro-Março): tradicionalmente um dos meses onde a deidade principal é Dioniso. Corresponde às Antestérias, festival dos mortos, do vinho e do despontar da primavera grega. Engloba o período de Carnaval, que pode ser associado ao Deus, e a colheita da uva.
9.Lua de Deméter (Março-Abril): Início do outono, tempo de colheitas e preparação para a próxima semeadura; descida de Koré. Inspirado nas Thesmophorias outonais.
10.Lua de Ártemis (Abril-Maio): Baseado na época da Mounichia: Festival em honra de Ártemis Mounykhia e o herói Mounykhos. Este festival honra Ártemis como Deusa da Lua e a Senhora das Feras. Há uma procissão na qual as pessoas carregavam Amphiphontes (brilhante dos dois lados), tortas arredondadas nas quais 'dadia' (pequenas tochas) são fixadas, simbolizando o nascente e o poente da lua.(...) Este é também um tempo apropriado para o Arkteia (Encenação da Ursa) em agradecimento pelos animais dos jogos juvenis. (...) As Arktoi (Ursas) são jovens garotas (com cerca de 10 anos de idade) que dançavam vestidas em khitones (túnicas) de cor açafrão. Elas usam coroas de folhas no cabelo e carregam tochas ou galhos. Fonte www.helenos.com
11.Lua de Apollo (Maio-Junho): Baseado na Thargelia: época de purificação coletiva que antecede o ano novo. O Thargelia, é um festival da colheita, celebrado quando espigas de cereais são debulhadas. Embora em muitos casos o tempo varia de fazenda a fazenda e coincida com a real conclusão da colheita (maio ou junho), uma vez que este é um festival para Apolo (como um guardião de safras), ocorre no sétimo dia, Seu aniversário. O festival tem duas partes: purificação e oferenda. O sexto dia (o aniversário de Sua irmã, Ártemis) é um dia de purificação, e dois homens (preferivelmente sem atrativos), os Pharmakoi (Bodes Expiatórios), que foram alimentados pelas pessoas, são conduzidos pela cidade, e depois afugentados por ramos de figo e bulbos de cebola (venenosos/tóxicos e usados para a purificação). Um dos Pharmakos usa um colar de figos negros, o qual representa os homens da cidade, e o outro usa um colar de figos brancos, representando as mulheres. O dia seguinte é para a oferta dos primeiros frutos ao Deus; . Há disputas separadas de cantoria de hinos, para coros masculinos de homens e de meninos; os vencedores recebem um trípode, o qual eles então dedicam ao Deus.Fonte: www.helenos.com
12.Lua de Afrodite (Junho-Julho): Celebramos especialmente Afrodite Pandemos, senhora da coesão política, como aquela que une todos e nossa comunidade que nos acompanhou ao longo de todo esse período que passou, e solicitando suas bênçãos para o próximo ano. Seu domínio evidente é o enlace sexual bem sucedido, fator indispensável para a continuidade da comunidade, super valorizado pelas sociedades antigas num contexto em que imperavam guerras constantes ceifadoras de vida. Contudo, podemos honrar a Senhora de Chipre enquanto fonte das diversas formas de afeto, não somente do ponto de vista heteronormativo visando a procriação.
Para os atenienses, era no inverno que caía o mês propício a casamentos, Gamelion. Talvez não por acaso, nossos oráculos direcionaram Afrodite para a época nacional dos Namorados.
Em nosso inverno meteorológico, ou bem próximo, celebramos também a Chtonía, um festival dividido em partes, centrado no ciclo de Deméter e Kori. Festeja-se, entre outras temáticas, a Theogamia de Kori e Pluton, simbolizando o plantio de cevada durante a chegada das estações mais frias e chuvosas no Sul.
Quando festejar a divindade regente do mês?
Com o intuito de auxiliar nossa comunidade a se organizar e se autorregular quanto às celebrações às divindades regentes do mês, trazemos a proposta -experimental- de estabelecer o meio do mês, durante os dias de Lua cheia, com exceção do 15° (os 5° dias costumam sem impróprios) para esse fim.
Fica também a sugestão de contemplar a divindade que energiza cada mês na Noumenia, pois é o primeiro e mais sagrado festejo regular.
O período de lua cheia naturalmente proporciona uma vibração mais festiva, e ,além disso, por curiosidade, no misticismo helênico (neoplatonismo-orfismo-pitagorismo), é o momento do mês mais propício para acessar o Divino. A Lua representa a Alma que recebe toda sua Luz do Sol, que por sua vez é identificado com o Supremo Bem. Logo, durante a Lua cheia, recebemos mais energia divina e nossa alma pode participar e aproveitar desse processo.
Você também pode “diluir” as práticas devocionais a divindade do mês, homenageando-o em todo início e fim do dia com preces, libações e oferendas simples, dedicação de leituras e pesquisas sobre seus domínios, mitos, antigos festivais e etc. Se dispor de espaço, organize um altar especialmente para ela.