PERGUNTAS FREQUENTES
Questões Helênicas
1)O que é Helenismo? Um dos nomes populares para a religião nativa dos deuses da Hellás (Grécia). Contudo, importante ressaltar: Helenismo, corretamente, se refere simplesmente a cultura grega. Gradualmente estamos nos educando a utilizar os termos mais adequados para nos referir diretamente à parte religiosa. Portanto, considero mais adequado evitar restringir o termo Helenismo a religião, apesar de ainda ser uma prática corrente entre os devotos dos deuses helênicos.
2)Há algum tipo de patronato, como ocorre em versões neopagãs de cultos antigos? A religião helênica é um sistema politeísta, ou seja, são honrados inúmeros deuses em inúmeras circunstâncias e combinações. Contudo, podemos sim ter nossas divindades “centrais” ou de referência mais permanente em nossa vida religiosa. Na antiguidade, era mais comum os deuses serem compreendidos como patronos de grupos/coletividades, por exemplo, profissões ou cidades. Uma vez que o lugar do indivíduo tinha importância em relação ao papel que se ocupava na sociedade. Houve mudanças referentes a isso? Sim ,houve. Mas tornou-se “regra”? Eis a questão. Contudo, sim, possibilidades começaram a ser abertas. Na modernidade houve tentativas de sistematizar um patronato, mas não há um pensamento unânime sobre o assunto. Um alerta: alguns discursos helênicos sobre patronato tem como base a filosofia platônica, como “deus que fez teu corpo e alma…”. Contudo, muito do que se fala sobre o assunto tem origem em caminhos neopagãos, como a Wicca. Sadio saber que existiram diversas correntes filosóficas e que nem sempre concordam sobre tudo como tantos outros assuntos. Epicuro, por exemplo, ofereceria outras explicações e desconsideraria qualquer tipo de patronato ou atenção dos deuses sobre o que se passa na humanidade. Saiba mais em: "Deuses patronos na ortopraxia helênica" youtu.be/zX-MHeLyzC4 "A lição de Hipólito: não despreze um deus". youtu.be/BL3oDDpcPdE "Kháris: reciprocidade e construção de vínculos com os Deuses" youtu.be/5qVp0_yfCKg
3) “Fiz um ritual para descobrir meu deus pai e deusa mãe, como transfiro isso para o Helenismo?” Primeiramente é necessário entender que esse sistema de “deus pai e deusa mãe” NÃO É helênico. Nada tem a ver com Helenismo. Não chamamos ninguém de “Mãe” e “Pai”, com raras exceções a depender do contexto referente a epíteto. Costume antigo que utiliza esses termos pertence aos romanos (Pater e Mater), onde eles chamam todos os seus deuses de pai ou mãe, e não somente os seus favoritos. Era um título honorífico, e não exatamente ligado de fato a maternidade e paternidade, e sim a autoridade. Helenismo é um sistema politeísta onde, na prática, significa que honramos vários deuses por inúmeras razões. Nesse rede de relacionamentos sentimos maior afinidade com um ou outro e podemos nos dedicar mais a eles, sem contudo, negligenciar o culto dos demais. Um dos principais pilares do helenismo é a Kharis, Reciprocidade, “trabalhamos” para nutrir nossa relação com os Deuses.
4) Os Deuses nos chamam para Eles ou nós que fazemos esse movimento em Sua direção? As pessoas costumam se basear nas narrativas homéricas em que os deuses têm seus mortais prediletos e os guiam. Precisamos ter em mente que aqueles gregos já estavam imersos nessa relação com os deuses desde seus ancestrais, portanto já havia laços sólidos construídos e mantidos através dos festivais e todo ato devocional dirigido a eles por séculos. Portanto, não seria incomum ver essa relação tão direta entre os gregos e seus deuses, conforme ilustrado por Homero ou Hesíodo. Para nós que cultuamos esses deuses da Hellas, em que a maioria não pertence ao ethos helênico por ancestralidade, e que iniciaram esse caminho recentemente: não considero impossível o movimento iniciado pelos Deuses de nos “chamar” para Eles e para o Helenismo. Contudo, devemos ter cuidado em imaginar esse caráter “Messiânico” judaico-cristão sobre os deuses e pensar que também há esse processo monoteísta de “povo eleito” e que você foi escolhido para ser algum tipo de missionário.
5)Magia é proibida no helenismo? Depende da prática mágica e de sua finalidade. Bom ressaltar que existiam termos diferentes para cada tipo, e não se usava ainda a designação “guarda-chuva” Magia. Atividades que pretendiam perturbar os mortos, por exemplo, eram mal vistas. Ou pretender forçar os Deuses a realizar seus desejos é considerado impiedade. Tentar encaixar teorias modernas sobre magia ou práticas não-helênicas devem ser avaliadas com cuidado.
6) Preciso ter descendência grega para aderir a religião? Os próprios gregos divergem sobre esse ponto. Contudo, sigo o seguinte raciocínio: honrar os deuses conforme seus ritos e crenças ancestrais é valorizar essa linguagem sagrada iniciada e desenvolvida pelos antigos e sua relação milenar com tais divindades. É, portanto, demonstrar profundo respeito aos mortais e Imortais envolvidos nesse processo histórico e sagrado. Faz-se então, necessário, estudo sobre essa cosmovisão específica dos helenos.
7) “Em Homero, é assim…” É inegável o poder educativo exercido pelos poetas Homero e Hesíodo sobre o povo helênico. Porém, o pensamento helênico se transformou ao longo dos séculos, e se faz necessário pesquisar sobre outras “vozes” do mundo antigo, o que inclui os filósofos e até mesmo outros poetas. Toda a produção literária helênica se faz imprescindível à aprendizagem.
8) “Ah, a mitologia grega é sexista, violenta, e etc…Por que honraria deuses que apresentam comportamentos iguais ou pior que os humanos?” Um dos maiores pontos levantados por aqueles que NÃO conhecem efetivamente os deuses helenicos. Mito é sagrado, mas não significa necessariamente uma crença ou credo. E , mais uma vez, existe a deficiência em relação ao conhecimento de outras vozes antigas que não seja Homero. Acesse os links para maiores esclarecimentos: "Dos estupros de Zeus ou Sobre o Problema do Mito" youtu.be/Dza7I-MWrOE "Sobre a natureza dos Deuses" youtu.be/pCxXKEnfCHY
9) Hécate é rainha das bruxas no helenismo? Hecate e tantos outros deuses helênicos possuem inúmeros domínios. Historicamente, Hecate foi associada a práticas mágicas, e não só Ela. Contudo, uma que vez que o helenismo não é religião orientada para promover magia, esse aspecto da Deusa como “Rainha de bruxas” está longe de ser central. Hecate tinha seus altares na frente das casas como guardiã do lar, ao lado de outros deuses domésticos.
10) “Hecate nos Oráculos caldeus é a alma do mundo…” Oráculos caldeus possuem relação com um ramo tardio do platonismo, onde, aliás, outras deusas assumem o papel de “alma do mundo”. São noções que não necessariamente pertencem a religião da pólis. Porém, não há mal algum em se aderir a essa crença.
11)Há sacrifícios de sangue? O sacrifício animal era tradicional e servia principalmente como refeição de carne para o povo, uma vez que não existia açougue e os festivais eram ocasião para o consumo. Alguns cultos não demandava sacrifício animal. Hoje em dia, por inúmeras razões, prevalece a oferta de vegetais, bolos, e outros presentes: incenso, velas, adornos para altar, etc.
12) “Sou muito devoto de deus X, logo, posso ser considerado Sacerdote(isa)?” Não. Não temos “autosacerdócio”. Somos todos devotos em primeiro lugar. Sacerdócio era um cargo público e havia eleição para isso, de diversas maneiras. Se existe uma comunidade helênica, e decidem estabelecer um sacerdócio, as regras serão criadas pelo próprio grupo. Mas se autointitular sacerdote não faz parte do Helenismo. Cuidado para não “mistificar” nosso sacerdócio com base em teorias não-helênicas, oriundas da Wicca, da Cristandade ou seja lá de onde for. Saiba mais em: "Sacerdócio no Helenismo" youtu.be/AALiT47XZFc
13)É proibido cultuar Hades, o deus dos mortos? Hades é um dos poucos deuses com domínios restritos. Ele reina entre os mortos, e pouco tem com assuntos ligados a vida aqui da superfície. Em alguns poucos cultos Ele é reverenciado com deus da fertilidade ou tesouros do solo. Contudo, sua maior honra é a esfera de existência dos que já se foram. Logo, seu culto é principalmente ligado a ritos funerários e quando honramos as almas dos mortos. Uma alternativa é inclui-lo, assim como Persefone, nos ritos de fim de mês lunar, quando tradicionalmente se honram os mortos com Hecáte. 14)É proibido cultuar deuses ctônicos?Definição de ctônico: o que se ocupa da fertilidade do solo, mas principalmente com os mortos. Uma vez que o culto aos mortos, no pensamento helênico, nos coloca em contato temporário com miasma, é algo feito com cautela. Importante notar que o culto aos mortos era feito nos locais onde residia o corpo. O miasma, portanto, seria provocado pela aproximação do corpo do morto. Esse miasma, poluição, é removido com algumas medidas purificatórias. Hades é o único deus que possui apena domínio ctônico (dos mortos). Hecate, Hermes, Dioniso, Deméter, são alguns exemplos de divindades que dialogam com os domínios dos mortos, mas não se restringem a ele. Em suma: não há proibição de culto ctônico, somente cautela.
14) Sou obrigado a aderir a alguma escola filosófica grega? As correntes filosóficas helênicas participam das produções espirituais da etnia helênica, assim como a religião e o sistema de valores, etc. Logo, é interessante investir estudos na Filosofia para compreender a extensão do pensamento grego e nos apoiar com ideias e outras visões de mundo que os os sábios antigos nos apresentaram. Perceberá que encontrará inúmeras concepções ditas "modernas". Helenismo não é dogmático ou doutrinário, portanto, entenda os ramos filosóficos como esforços humanos para investigar o funcionamento do Cosmos, o que inclui os Deuses e nosso lugar no mundo.
15)Posso cultuar só 1 ou 2 deuses? Pode ser útil no início, sem problemas. Mas se você quer ser Helenista, irá incluir em sua vida os demais deuses, ao menos o famoso Dodecatheon (12 Deuses + Dioniso). Os deuses helênicos formam um conjunto, representam a totalidade do Cosmos no Helenismo. Com o tempo, irá ampliar suas relações divinas. Permita-se. Se restringir a deuses que somente ressoam com seus "arquétipos" preferidos pode ser muito empobrecedor espiritualmente e não é a proposta da teologia helênica.
16) Culto aos Titans e Deuses Primordiais: Apesar da religião helênica ter como centralidade os "Olimpianos", não há proibição quanto ao culto aos deuses das gerações mais antigas, apenas não recebem a mesma relevância dependendo, também, do local, uma vez que, sempre lembrando, o sistema cultual era local e podia variar entre as comunidades. Outro ponto importante: nem toda figura da mitologia recebia culto. Alguns exemplos de deidades de geração divinas antigas veneradas: no calendário ateniense, temos a festa estival da Kronia,para Kronos. Rhea possuia um templo no peribolo do Olimpeon em Atenas, e seu culto é atestado em outras localidades como Arcadia, Creta, Esparta. O titã Hélios tinha proeminência em Rhodes; Selene é a deusa do calendário lunar e recebe homenagens durante a Noumenia, e um outro momento do mês lhe parece ser dedicado, apesar de historicamente controverso,a Dichomenia (um dia antes da lua cheia,na décima quarta noite do mês). A deusa primordial Gaia/Ge/Gea é venerada por toda parte, porém secundariamente a Deméter; a titãnide Leto geralmente surge associada aos cultos de seus filhos Apollo e Artemis; o titã Prometeu recebia culto em Athenas, onde uma festa com corrida de archotes lhe era dedicada. Em Mégara, atesta-se um oraculo de Nix.
17) Helenismo é a tradição ancestral de um povo, não tem nada a ver com o que se chama hoje de 'Neopaganismo" ou "Paganismo":
Como explico em outras publicações, Helenismo em seu sentido integral se refere a tradição cultural dos helenos (os gregos),e nisso se inclui seus ritos e crenças ancestrais. Paganismo é um termo rejeitado por muitos gregos porque simplesmente é uma construção cristã pejorativa. Em alguns contextos acadêmicos essa designação foi usada como sinônimo de "religião nativa de um povo". Porém, para essa finalidade há termos mais adequados, como ÉTNIKOS, como aliás, é chamada a religião grega entre os gregos, uma "religião étnica', "nativa" ou "indígena". Além do mais, "paganismo" possui conotação universalista que não reflete a realidade dos antigos, fora outras problemas conceituais. Cada povo tinha suas próprias tradições. Por fim, sobre o 'Neopaganismo": de modo geral esse movimento está ligado a linhas de ocultismo, Nova Era, e outras crias da cristandade. Mais uma vez, também não se pode encaixar aqui uma religião étnica, seja qual for.
18) Eles dizem: "Ah, mas não é possível fazer tudo igual a antigamente": "Antigamente", quando exatamente? Existe uma palestra do Vlassis Rassias, falecido membro do grupo grego Y.S.E.E, em que ele explica que tradição não é museu para parar no tempo. Nenhum grupo grego pretende reproduzir fidedignamente tudo em relação a religião ancestral, nem mesmo o calendário repleto de festas. O próprio Y.S.E.E elaborou um calendário modernizado. E precisamos evitar a crença de que a vida intelectual e religiosa dos gregos "morreu" na época clássica. Após o período "clássico" e mesmo na Era Cristã, a religião grega continuou, apesar de bruscas mudanças em relação ao período dominado pela Cristandade.
19)"São muitas festas, o que faço? E inverto o calendário?" Eu sempre estudo o modo de funcionamento dos grupos gregos para trazer as ideias para o nosso Projeto. Que fique claro desde o início: na antiguidade, cada local possuía o seu próprio calendário, inserido num contexto maior ainda, aquele da Pólis. E cada pólis tinha o seu sistema de festas. Hoje em dia, processo semelhante ocorre: cada grupo tem suas próprias celebrações, umas modernas, outras são de fato do calendário antigo. A Labrys tem seus sistema de celebrações, o Ophion macedônico as deles, o Y.S.E.E, etc. O Projeto Hierokrithari também desenvolveu um sistema próprio, que pudesse atender ao contexto brasileiro-sulino e todos são convidados a segui-lo em sua prática devocional doméstica. O importante é não ficar "batendo a cabeça" tentando reviver por inteiro um calendário - normalmente o ático - cheio de festividades que, em alguns casos, nem nos cabe celebrar. Para seu uso particular, estude o que há disponível das iniciativas modernas e elabore o que pretende celebrar ao longo ano.