MANIFESTO HIEROKRITHARI
“Um caminho para a Sabedoria Helênica e seus Deuses”
(Por A.Demétrios H.S.R., dirigente do projeto Hierokrithari)
Desde seu nascimento em 2017, a comunidade Hierokrithari vem acolhendo e orientando novos devotos dos antigos deuses do panteão helênico. Este Manifesto visa proporcionar aos interessados uma maior compreensão de como o grupo funciona, a abordagem ao que comumente chamam de “Helenismo”, e posicionamento em relação a questões modernas.
1. O QUE SOMOS E O QUE FAZEMOS?
O Hierokrithari se caracteriza por um [Projeto], que abarca inúmeras metas, a curto e longo prazo, guiado pelo permanente desejo de divulgar e fortalecer o politeísmo helênico em solo brasileiro, apesar de sediado no Rio Grande do Sul. Uma comunidade brasileira devota dos deuses do panteão helênico, e inspirados pela respectiva tradição cultural politeísta em suas diversas fases ao longo de sua história, construímos e reconstruímos práticas.
Uma destas metas é a formação de comunidade presencial e virtual composta por membros de várias partes do país dedicada ao estudo e prática da religião helênica e todos os aspectos da tradição helênica diretamente relacionados. Nosso objetivo não é somente ensinar a cultuar um deus ou outro, o que seria uma tarefa bastante simples.
Mais informações acesse:
Objetivos Hierokrithari
História do Projeto https://hierokrithari.com.br/historia-do-projeto
2. NOSSA ABORDAGEM:
Compreendemos essa tradição como um maravilhoso “todo”, complexo, uno e múltiplo, na qual a “religião” é apenas uma fração das diversas expressões culturais do povo helênico. Cosmovisão que propõe perspectiva distinta da dominante em relação ao Divino, ao Cosmos e ao Ser Humano.
Em resumo, o renascimento do "paganismo" no século XX foi encabeçado por movimentos ecléticos, com influências do ocultismo e teorias da Nova Era (ex.Wicca). Pouquíssimo disso ou nada lembram os respectivos caminhos religiosos dos Deuses antigos. Daí surge, mais tarde,o movimento do "Paganismo Reconstrucionista", visando uma abordagem que contemplasse dados históricos como embasamento das práticas e crenças. Contudo, existem algumas problemáticas que envolvem o movimento reconstrucionista e, portanto, não utilizamos este conceito para definir o Hierokrithari. Apesar disso, na prática, mantemos semelhanças.
Além desse movimento dentro do Paganismo moderno, existia a revitalização da religião nativa dos helenos (gregos), não tão divulgada quanto ao que se passava no Paganismo norte-americano. A grande diferença é que os helenos desejam restaurar algo que lhes pertence por ancestralidade, antes do genocídio cultural perpetrado pelo Cristianismo. É a restauração da sua tradição originária.
Definição de TRADIÇÃO, segundo o site da comunidade helênica politeísta Y.S.E.E:
“A tradição nada tem a ver com folclore local, nem com os diversos costumes locais registrados pelos folcloristas. A tradição tem a ver com as origens e a transferência ao longo dos séculos de um conjunto de noções, perspectivas e concepções que ajudam as pessoas que fazem parte viva da tradição específica a interpretarem a si mesmas e ao ambiente natural e moral de uma forma muito específica. A tradição é uma forma de ver e o conhecimento transferido de uma geração para outra, passando pelos filtros das diferenciações sociais e morais e alcançando seus participantes sempre precisos e respeitados. A tradição concentra na sua essência tudo o que existiu; todas as formas, as narrativas, o não dito, os mitos, os ritos que foram expressos dentro do seu contexto no passado e, ao mesmo tempo, tudo o que ainda não foi expresso, mas existe em estado de potencialidade. A qualquer momento, a tradição está completa e ao mesmo tempo tem capacidade de evoluir. Incorpora o conhecimento interno que coexiste harmoniosamente com todos os aspectos da vida: pessoal, coletivo, político. É uma transferência universal e uma experiência universal, dado que a única coisa que pode variar entre os seus diferentes participantes é a extensão e a qualidade desta transferência e experiência. A tradição é sempre objetiva (ao contrário da percepção e visão subjetiva e individual). É sempre ancestral e étnico. Nunca pode ser imposto de uma nação a outra. Não existe tradição compartilhada por mais de uma nação.”
(frequently asked questions about the hellenic ethnic religion and tradition)
Nosso lugar de fala aqui não é o de herdeiros étnicos dessa tradição. Talvez o que mais nos caracteriza seja o termo PHILELENOS, [os que amam ou admiram os helenos, a cultura helênica]. Portanto, em nosso contexto fora da Grécia, sem qualquer descendência grega, ou sem qualquer um de nós a participar de grupos de lá, poderá nos conferir características muito próprias (elaborar ritualísticas ou interpretações que nos atendam especificamente). O que não significa que seguimos tendências ecléticas. As bases de nossas práticas sagradas são sempre oriundas do mundo helênico.
Independente de como cada membro se denomine (reconstrucionista, helênico, helenista, etc) o que mais importa enquanto grupo é o preceito essencial de que toda a tradição grega politeísta educa acerca de vários assuntos, principalmente nos âmbitos teológico e ético. A Mitologia, a Filosofia, o Teatro, a Poesia (Homero, Hesíodo, Safo e tantos outros menos conhecidos), Orfismo , Mistérios Eleusinos e Baquicos ,etc. Gradativamente devemos entrar em contato com um pouco de cada antiga “voz” helênica. E, tão importante quanto, buscar acompanhar o trabalho de grupos gregos politeístas modernos para conhecermos mais.
Valorizamos a pesquisa ativa dos membros, pois cada um é responsável por sua vida devocional. E ao dialogarmos com uma tradição étnica e interrompida no tempo, faz-se necessário o estudo.
3. TEOLOGIA
Teologia é uma palavra grega cunhada e utilizada muito cedo pelos antigos, significando algo como “discurso ou estudo sobre a classe divina, sobre os Deuses”. Para personalidades importantes como Platão e Aristóteles, teólogos são os poetas, os sacerdotes e os mistagogos. Os filósofos, em suas investigações sobre o Cosmos, normalmente dedicam espaço em suas obras sobre Teologia, contribuindo com o assunto.
“A mitologia não é um livro sagrado e menos ainda revelado. A palavra "religião", inclusive, sequer existe em grego. Os autores das obras sobre a "religião" grega, que são muitas, devem sempre esclarecer que usam o termo de forma análoga, já que também os gregos se "re-ligavam" aos deuses mediante sacrifícios, oráculos, etc. Mas não se "re-ligavam" ao criador, uma vez que não havia deuses criadores, nem promulgadores de regras de conduta, nem nada do gênero. Sem essa liberdade de espírito própria do mundo chamado "pagão", a filosofia talvez não tivesse nascido. Isso não foi obstáculo para que houvesse numerosos processos por impiedade, mas eles foram consequência do caráter "político" dos deuses gregos (cada pólis entendia estar sob a proteção de um deus, garantia das leis), equivalentes a nossos símbolos pátrios; necessários, acreditava-se - ainda se acredita - para a coesão social. Uma sentença do escritor Nikos Kazantzakis, um grego "moderno", resume a atmosfera espiritual que respiraram os iniciadores da filosofia: "Não espero nada, não temo nada: sou livre". A liberdade de pensamento ignora paraíso e inferno.”
(Nestor Luís Cordero, A invenção da Filosofia, editora Odisseus)
Desta forma, a tradição politeísta helênica não era dogmática ou controlada por uma casta sacerdotal e havia certa liberdade de crença, desde que não caísse no ateísmo e no desrespeito aos cultos ancestrais.
No projeto Hierokrithari, defendemos um preceito muito básico de que os Deuses são Potências ou Poderes Ordenadores do Cosmos, que podem se revelar e agir de diversas formas. Como essa ideia se desenvolve em detalhes, cabe a cada um estudar como os Deuses se apresentaram aos antigos, o que dizem os inúmeros teólogos, e na sua relação com os Divinos irem construindo seus saberes. Contudo, assim como os helenos, rechaçamos teorias que degradem o divino ou que produzam qualquer tipo de atos devocionais degradantes ou que ofereçam riscos de vida ao devoto ou a outras pessoas.
"Sendo o ateísmo uma opinião infundada de que não há nada essencialmente feliz e incorruptível, parece levar a alma a um estado de insensibilidade através da descrença na divindade; e seu objetivo em não acreditar em deuses é não ter medo deles; enquanto para superstição (temer a divindade), seu próprio nome mostra que se trata de uma opinião que envolve paixão (sentimento), e uma concepção que engendra um medo que humilha e esmaga um homem, na medida em que ele acredita que existem deuses, mas que eles são rancorosos e travessos pois o ateu parece ser alguém que é insensível ao que é divino; o homem supersticioso parece ser sensato da maneira errada e, portanto, pervertido. Pois a falta de conhecimento produziu nele uma descrença no benfeitor: enquanto noutro caso, acrescentou-se o medo de que o mesmo poder seja maligno. consequentemente, o ateísmo é a razão enganada, a superstição é uma paixão que surge de um raciocínio falso.
(Plutarco, Sobre a Superstição)
Conheça mais sobre a Teologia Helênica no link https://hierokrithari.com.br/teologia-helenica
“Nada em excesso”
(Máxima Délfica)
4. DEUSES PATRONOS
Deidades tutelares do grupo, como reis e rainhas responsáveis diretamente pelo nosso bem-estar, análogas às antigas divindades “políades” (guardiãs da pólis). São Elas: Deméter-Koré, Zeus e Hera, Dioniso e Afrodite, Atena e Apollo. Héstia está sempre no centro, de acordo com a tradição.
Ao lado dos deuses propriamente ditos, os helenos reverenciavam a classe heróica como guardiã local, normalmente - porém, não somente - os personagens semidivinos apresentados nas epopeias. O culto era local, em torno da sacralidade do túmulo do respectivo herói. Em épocas históricas, recebia culto heróico o ser humano que em sua vida apresentou Areté (Excelência, Poder, Virtude) em alta medida e possuía valor para determinada comunidade. Contudo, há evidências de heróis que se tornaram tão populares cujo culto se espalhou para além de seu lugar de origem.
Para nós, os heróis e heroínas da tradição helênica são principalmente exemplos de Areté e são honrados por isso. Até o momento, Triptolemos, por sua relação íntima com Deo, possui local de destaque no Hiero.
4.1 CENTRALIDADE DE DEMÉTER
A deusa Deméter recebe em nossa comunidade posição proeminente, sendo honrada como “Megále Theá”, Grande Deusa (título honorífico), resultado de um processo que se deu naturalmente através de inúmeros simbolismos e reflexões acerca deles. Esta relação é construída e reconstruída continuamente, podendo gerar ainda uma pluralidade de significados e práticas.
A memória mais popular sobre a deusa Deméter é a da sua preocupação materna por Koré expressa no mito do Rapto. Contudo, como com qualquer outra divindade helênica, o domínio divino é extenso e profundo. De acordo com Maria Lúcia Gili:
“Réia, primordial fonte ctônia de toda a fecundidade, enquanto matriz geradora de
Zeus que, definindo os âmbitos de poder dos deuses em geral, faz do mundo uma
explicitação do seu poder, compartilha da natureza de sua mãe Terra, geradora das bases
para a instauração da ordem de Zeus. Do mesmo modo Deméter partilha da natureza de
sua mãe Réia enquanto potência ctônica fecunda que, produzindo o fruto da terra, é, num
primeiro momento, a mantenedora da vida humana e, num segundo, a sustentadora dos
imortais, ou das “formas fundamentais do mundo” (Hino Dem. 310-312). Nesse sentido,
Terra, Réia, Deméter e seu duplo Perséfone completam um ciclo: Terra, de amplo seio, é
sustentáculo de tudo quanto existe, Réia é matriz geradora de tudo o que existe, Deméter
é potência fecunda, que necessita da filha, como seu duplo, para fazer circular no mundo
invisível e aflorar, no mundo visível, a sua força fecunda, produtora do alimento que
mantém o homem vivo, homem esse que usufrui de tudo quanto existe e por isso gloria o
sagrado ser dos imortais.
As circunstâncias do nascimento de Deméter se dão conforme o seu ser, natureza
e função: imediatamente após descer do ventre sagrado da mãe, sobe à boca e desce ao
ventre do pai e, com o girar do ano, de novo sobe à boca do pai que a vomita. A
função, a natureza e o ser da deusa manifestam-se pela tensão da dupla serventia do
ventre, pelo descer e subir e pela circularidade. O ventre de Réia é o símbolo da
maternidade, é ali que o sêmen germina e a vida é preparada, mediante a doação
contínua que a mãe faz da sua própria substância. O ventre de Cronos, na medida em que
ele engole os filhos para impedi-los de virem à luz, é o símbolo da destruição da vida, ou
seja, é o símbolo da morte. O ventre da mãe acolhe para edificar e revelar, o do pai
recolhe para ocultar, aniquilar. A tensão do duplo uso do ventre caracteriza a função de
Deméter que transita entre ocultar a semente (Hino Dem. v.307) e revelar o fruto (Hino
Dem. v. 471).
Além de senhora da vida aqui na “superfície”, Deo se relaciona com o pós-morte do corpo físico. Assim prossegue:
A ela se deve a circulação das forças entre o mundo subterrâneo dos
mortos, onde desce a semente e cumpre as suas fases, e o mundo terrestre dos vivos,
onde sobe a plântula e cumpre as suas etapas. Deméter é o ventre escuro, invisível, onde
uma nova energia é criada; o grão depositado ali, volta ao mundo visível transformado.
Nascer e morrer, ocultar e revelar, edificar e aniquilar, descer e subir, invisível e visível,
esses pares de oposição, parece que a deusa os sintetiza sugerindo a ambiguidade do seu
poder e sinalizando que a vida se gasta em um envelhecimento contínuo, transformando,
paulatinamente, o ser humano, de bebê em criança, de criança em jovem, de jovem em
velho, e, de velho, em cadáver, como as estações do ano. Assim como a semente
encerra a futura semente, a vida encerra a morte. No centro está Deméter, a Mãe Terra,
de seu ventre brota a vida e toda a abundância e a ela tudo volta. Nascimento e morte a
pertencem, encerrando nela mesma o círculo sagrado. Por isso os seus dons são tão
valiosos (Hino Dem. v.268-269) e suas leis sagradas e invioláveis (Hino Dem. v.476-
482).
“Dentre os (περικαλλεα δωρα) belíssimos dons que os deuses oferecem à
Deméter (v.327), o primordial é sua filha que, recebe o mesmo epíteto de (περικαλλη)
“belíssima”(v. 405, 493, 2II). Se a filha é o seu belíssimo dom que desce ao mundo dos
mortos e ali faz circular e emergir à superfície da terra, sob a forma de plantas carregadas
de frutos, as suas forças fecundas, então, é ela que lhe confere ser, verdade e
cognoscibilidade, e, portanto, é através dela que Deméter participa da “ideia do bem”.
O outro dom de Deméter, totalmente vinculado a sua próspera energia, é a
promessa de uma vida feliz no além-túmulo para os que viram os seus mistérios sagrados
(v.480-482). Os sepultamentos sempre implicam a idéia de uma vida que continua além
da vida, em um plano subjacente, invisível, e que de algum modo o sustenta. O ventre
da terra é o lugar escuro onde o cadáver, à medida que se decompõe, aduba a terra,
vitalizando-a e permitindo a circulação das forças entre o domínio do invisível e do visível”
(“A Natureza de Deméter”, Deméter: a repulsão medida. Maria Lúcia Gili.)
Devido às evidentes conexões de Deo com a terra, na teologia estóica Ela é quem representa a manifestação telúrica do Divino Supremo (o próprio Cosmos) - apesar de Geia ser a tradicional encarnação da terra primordial. Georgios Gemisthos Plethon, um platônico da Idade Média, identifica Deméter como “deusa das plantas”, em sua obra “Leis”.
A Deusa Eleusina, ao lado da Filha, assume também funções políticas, como mantenedora da ordem:
“Um dos epítetos de Deméter e Koré - Thesmophoros ou Thesmophoroi- conecta as duas deusas à Themis e à ordem divina. Tratam-se de termos de difícil tradução. S. G. Cole interpreta da seguinte maneira: “aquela que carrega/porta o que foi fixado". No caso, o que foi fixado por Themis e por Zeus é a ordenação do cosmo, as leis divinas que regem homens e deuses. As duas deusas representam o mundo agrícola, a reprodução legítima das famílias e os ciclos de nascimento e morte. Ou seja: os deveres humanos para com a physis e a manutenção da cidade. O escoliasta de Luciano coloca a questão do seguinte modo: "Deméter é nomeada Thesmophoros pois estabeleceu as leis ou thesmoi de acordo com as quais o homem deve trabalhar para ter sua comida".
(Mariana Figueiredo Virgolino)
"Themis, o mito nos conta, foi a primeira a introduzir profecias, sacrifícios e as ordenanças que se referem aos deuses, e a instruir os homens na obediência às leis e a paz. Consequentemente, os homens que preservam o que é sagrado aos deuses e às leis humanas são chamados thesmophylakes (guardiães das leis) e legisladores (thesmothetai) e dizemos que Apolo, no momento em que ele responde aos oráculos, está "emitindo leis e ordenanças" (themisteuein), em vista do fato que Themis foi a descobridora das profecias oraculares". DIODORO SÍCULO, Biblioteca de História, V.67.3.
Ainda segundo a estudiosa Mariana Virgolino:
“Temos, então, que Themis é um conceito mais amplo que Diké, envolvendo toda uma ordem entendida como natural e antecessora aos dizeres de justiça dos homens. Aliás, é por causa dela que os homens sabem o que é a justiça, o que lhes cabe na repartição do mundo. Na Odisseia ela, juntamente com Zeus, "dispersa e convoca as assembleias dos homens". Themis é, enfim, a designação de como as coisas devem ser, do próprio equilíbrio cósmico, das leis divinas ou, simplesmente, da constância do mundo. Ela é a segunda esposa de Zeus, mãe das Estações (Horas) e das Moiras, além da Paz (Eirene), Justiça (Diké) e Boa Ordem (Eunomia), como mencionado. Isto é: Themis é a que gerou não apenas a ordem natural (representada pelas Estações), mas também as entidades responsáveis pelo destino dos homens, as Moiras -Klotho (Fiandeira), Lakesis (Sorteadora) e Atropos (Inflexível).”
Na devoção doméstica e cotidiana dos membros do Hiero, Deméter é integrada ao grupo de deuses domésticos, através de um epíteto atestado em Corinto, “Epoikidiê” ou “Epikidií”, senhora do lar. Ou ainda “Oikodespina”, senhora da casa.
O culto aos deuses domésticos é essencial na tradição helênica politeísta, e são eles: Héstia, Agathos Daimon, Apollo Aguieus, Hecáte, Hermes Propileus, Herácles, várias “qualidades” de Zeus (Sóter, Herkeios, Ktesios,e outros).
“Sou Deméter honrada, a que é grandíssima
valia e alegria para os imortais e mortais.”
(Versos do Hino Homérico a Deméter, trad. de Maria Lúcia Gili Massi)
5. CALENDÁRIO:
Foi desenvolvido um calendário próprio que busca conservar algumas festas tradicionais antigas (especialmente de Atenas), assim como inserir celebrações com temas e datas próprias. O objetivo geral é que possamos honrar os 12 maiores Deuses ao longo do ano. Dessa forma, em cada mês lunar teremos uma deidade principal para fins de estudos e culto, somado aos dias tradicionais dentro do mês lunar seguindo a referência ática.
Uma vez que o calendário dos antigos é recheado de festejos que nossa vida atual não permite seguir à risca, este nosso projeto visa facilitar a vivência devocional. É experimental, pode sofrer alterações nos próximos anos, novas datas podem ser incluídas, sempre de acordo com a necessidade e inspiração. Outros grupos modernos, inclusive gregos, montaram seus próprios calendários também, mais enxutos.
Saiba mais em https://hierokrithari.com.br/calendario-hierokrithari
6. MODO DE VIDA
Como explicado mais acima, nossa abordagem abrange parcialmente o “culto historicamente alinhado” conjuntamente com a sabedoria antiga para vida cotidiana (seguindo o método ação-reflexão-ação visando contemplar novos tempos e contextos).
Paideia pode ser traduzida como "formação", é a educação dos gregos, onde confluem e se propagam os valores helênicos; era a proposta de formação humano-intelectual dos cidadãos gregos na busca pela excelência humana. Um grande Helenista, Werner Jaeger, diz que o propósito da educação grega é formar um "homem são" . Bom e belo, nas palavras da filosofia. Recursos da Paideia: poesia, as obras teatrais, os processos jurídicos (onde nos discursos se expõem os valores da comunidade), a música, a ginástica e a Filosofia.
O sistema ético grego gira em torno da Areté, Virtude ou Excelência. Desde Homero, passando por Hesíodo, até legisladores como Sólon, até os filósofos de todas as épocas, a Areté é central, se diferenciando um pouco em seu conceito dependendo da época. O que se mantém constante é o propósito último: modelar um ser humano sadio, excelente, forte.
Cada um é responsável por conduzir sua própria vida, e o Helenismo pode e deve servir como um farol. Autonomia é um dos pilares helênicos.
“O homem feliz vive bem e se conduz bem, pois praticamente definimos a Felicidade (Eudaimonia) como uma forma de viver bem e conduzir-se bem.”
(Aristóteles, Ética a Nicômacos)
“O que se exige do ser humano é que, se possível, seja útil ao maior número de semelhantes. Caso não consiga, sirva a poucos, ou aos mais próximos, ou a si mesmo. Ao tornar-se útil aos demais, acaba por iniciar um trabalho social. Da mesma forma, quem se degenera prejudica não apenas a si, mas também a todos os quais poderia ajudar caso fosse uma pessoa melhor, quem se aprimora já beneficia os outros, já que prepara quem vai poder ajudá-los no futuro"
( Sêneca, Da vida retirada)
7. QUESTÕES MODERNAS
Condutas que o Projeto Hierokrithari defende:
A Valorização da diversidade do ser humano, respeitando: orientação sexual, raça, crença religiosa, a neurodiversidade, etc.
Temos ciência de que a comunidade pagã é notável por acolher o público LGBTQI+, porém, sabemos que há grupos especificamente dentro do espectro helenista que são resistentes à união homoafetiva. A conduta do Hiero é defender a validade e sacralidade de toda forma de amor entre adultos conscientes e de comum acordo.
Sabemos que existem formas religiosas que não aceitam a diversidade de caminhos sagrados e ainda propagam difamações. Não incentivamos a violência contra esses que nos atacam, mas nos reservamos no direito de defender nossas crenças através da Informação Correta e produção de conteúdo.
De modo geral, reiteramos as pautas estabelecidas pelos Direitos Humanos. Para saber mais, acesse O que são direitos humanos?.
8. RESPONSABILIDADES DO MEMBRO NÍVEL BÁSICO NA PRÁTICA:
A vida religiosa de inspiração helênica é basicamente doméstica. Muito do que se espera é o comum de qualquer helenista:
Ser capaz de realizar ritos básicos, estabelecer culto doméstico aos deuses, buscando observar as celebrações mensais fixas (Noumenia, etc). A diferença aqui é a inclusão da deusa Deméter ao grupo de deuses domésticos, através do epíteto Epoikidia ou Oikodespina, ambos significando “senhora do lar”.
Se orientar pelo calendário particular do Hiero, porém possuindo autonomia para incluir outras celebrações helênicas de sua escolha ou de própria elaboração.
Pode ter devoção especial a alguma divindade, contudo, deve reverenciar os demais deuses, afinal, não somos monoteístas e nem monólatras.
“Politeísmo significa que vários deuses são adorados não só no mesmo local e ao mesmo tempo, mas também pela mesma comunidade, pelo mesmo indivíduo. É o seu conjunto que constitui o mundo dos deuses. Por muito que um deus se preocupe com a sua honra, ele não disputa com nenhum dos outros a sua existência, pois eles são todos “seres eternos”. Não existe nenhum deus ciumento como na crença judaico-cristã.”
(Walter Burket, A Religião grega na época clássica e arcaica)
“Os fatos do culto são ineludíveis: durante os festivais em honra dos deuses são feitos sacrifícios regularmente não a um, mas a uma série de deuses. Isto está patente particularmente nos calendários áticos de sacrifícios, até mesmo no das aldeias,e ainda mais no da cidade inteira. Durante as Eleusinias eram nomeados receptores dos sacrifícios: Têmis, Zeus Herkeios, Deméter, Ferefata, 7 heróis, Héstia, Atena, as Cárites, Hermes, Hera e Zeus, e depois ainda Poseidon e Artemis. As Duas Deusas com os seus heróis encontram-se no centro, rodeados pelos senhores do enclausuramento e da fogueira. Temis, como a lei sagrada em pessoa, inaugura o sacrifício, e Atena não pode faltar. As Cárites e Hermes presidem ao ágon (competições), seguem-se os dois deuses supremos, e por fim, Poseidon e Artemis, que têm seus templos próximos ao santuário de Eleusis. Quando a tradição literária menciona, em relação à festa dos Halôa, Deméter e Dioniso como receptores de oferendas sacrificiais, e além disso, uma procissão em honra de Poseidon, ou quando no último dia das festas dionisiacas das Antestérias, Hermes Ctônio é presenteado com sacrifícios (...)
(Walter Burket, a Religião grega na época clássica e arcaica)
Buscar atualizar seus estudos, acompanhar as deliberações e discussões em ambiente virtual.
Na impossibilidade de montar altares, priorize outros atos cultuais, como as Preces e Hinário, ao menos até que possa se encontrar em situação favorável.
Entendemos que a vida é corrida para a maioria das pessoas, mas é salutar interagir o mínimo possível nos nossos grupos virtuais e compartilhar nossos estudos e evoluções de nossas práticas. Sem isso, o senso de comunidade se perde.
9. ADESÃO
1. Oferecemos duas modalidades simples: o candidato principia como Amigo/Convidado para conhecer a dinâmica do grupo. Após pelo menos 1 ano de envolvimento com o grupo, se assim desejar, poderá se tornar membro regular, oficial, mediante cadastro por parte dos dirigentes.
O Membro Regular se caracteriza por compartilhar de nossas práticas e os preceitos expressos ao longo deste documento. Poderá assumir alguns cargos de supervisão e outros que sejam necessários ao desenvolvimento e manutenção da comunidade
2. Não há votos exigidos ou compromissos de sigilo. Quase todas as atividades são opcionais e os membros são livres para renunciar sem questionar. A adesão é gratuita. Basta participar do processo de formação básica oferecido por um de nossos representantes e ser inserido num dos grupos virtuais.
3. Nosso intuito, ao oferecer plataformas virtuais de convivência, é construir comunidade e proporcionar o direito à Pertencimento. Isso só é possível com o mínimo de envolvimento de cada membro, não somente dos dirigentes. No entanto, compreendemos que algumas pessoas possam se sentir desconfortáveis com grupos on-line, então mantemos a flexibilidade para participar de outras maneiras, como nos encontros virtuais via vídeo.
4. A única atividade obrigatória para todos é a realização de um questionário ou tarefa de pesquisa, periodicamente (trimestral). Essa ferramenta servirá para acompanhar o progresso dos membros e verificar se ainda estão ativos no grupo, pois há casos frequentes de “membros fantasmas” que nunca interagem e portanto se torna questionável sua permanência. Haverá um período para responder o questionário. Caso não seja enviado sem justificativa, o membro será removido sem prévio aviso, dando espaço para pessoas realmente interessadas.
5 . Questionamento frequente:
“Sou adepto de outra espiritualidade/religião, posso ser membro mesmo assim?”
Resposta: Compreendemos que na atualidade é comum uma pessoa seguir mais de um caminho espiritual. Avalie se os princípios de suas outras crenças ou condutas não se opõem totalmente às propostas de nossa comunidade (exemplo: adeptos de algum monoteísmo dominante e excludente provavelmente terão dificuldades; homofobia também não será bem-vinda). No mais, a prática é centrada na vida devocional doméstica, em que cada um decide cumprir ou não ou com qual regularidade possível dentro de suas condições. Eventualmente há celebrações coletivas em que os membros são convidados a participar, e outros podem atuar como dirigentes. Neste caso, quem é eleito a dirigente deve assumir maior responsabilidade e cumprir os deveres para com o grupo conforme for combinado. Sejamos coerentes e responsáveis.
5. Nada é inquestionável. Os princípios aqui estabelecidos servem como ponto de partida e de união. Como afirmado em outros tópicos, prezamos pela autonomia de cada indivíduo, estudo ativo e construção de seus conhecimentos.
6. A adesão é reversível. A qualquer momento o membro pode desligar-se ao sentir que não lhe faz mais sentido sua permanência nos grupos. Contudo, sugerimos sempre o caminho do diálogo para resolver eventuais conflitos ou mal-entendidos. Procure os supervisores.
10. FUNÇÕES DAS LIDERANÇAS
As lideranças atuam de modo geral na manutenção da comunidade e na prestação de orientação religiosa, junto ao líder fundador, através de compartilhamento de materiais, sessões de aprendizagem individual ou coletiva. No entanto, evite confundir com o modelo sacerdotal de outras religiões em que os líderes ordenam a vida dos membros. Aqui não há “pastores conduzindo ovelhas”.
Cargos diversos poderão ser gerados conforme as necessidades e crescimento da comunidade.
Somente as lideranças autorizadas podem se pronunciar em público em nome da comunidade do Hiero.
“Aqui estão as crenças que melhor podem ser ditas como tendo sido transmitidas a nós por uma sucessão de homens divinos: Os deuses são todos seres de uma natureza mais elevada e mais feliz do que a natureza humana. Eles nos proveem de sua felicidade transbordante; nenhum mal pode vir deles, são os autores de todo bem e por um destino irreversível e imutável eles atribuem a cada um a melhor porção possível. Existem muitos deuses, mas com diferentes graus de divindade. Um deles, o maior de todos, é o deus supremo, o rei Zeus, que de fato os supera infinitamente por sua majestade e excelência de sua natureza; ele existe desde toda a eternidade. Ele não nasceu de nenhum outro, ele é seu próprio pai, e, como o único de todos os seres que não tem outro pai além de si mesmo, ele é o pai e o criador mais antigo de todas as coisas. Ele é essência supremamente essencial, absolutamente um, supremamente idêntico a si mesmo; ele é o Bem.
(Gemistos Plethon, erudito helênico do séc. XIV)